sábado, 31 de julho de 2010

No vazio claro em que escrevo
Repouso em lugar de tantas conversas
Percebo esse igual e doce cheiro
Morangos silvestres de teus cabelos
Que percorrem em linhas dispersas
Se amo, sinto com ausência
O próprio amor que não me guardo
Coloco aqui e te preencho
Nos lábios quentes que me destes
Pedidos falsos, clientes amargos
Com a tristeza do teu quarto.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Borboletas tontas
Que te buscam cegas
Escrevem certas
Meus abraços livres
Em teus braços falsos
Já perdi meus passos
Na tinta seca que pinta
Nosso mesmo espaço
Desse pincel velho
Triste e quebrado
Que eu nunca acho
Graças a incerteza
Bela dos teus olhos
Sei que o certo
Do cerco leve
Que tu me cedes
Já é seco
E sente sempre
O que nunca escreves
O que ainda faço.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Metáforas são perigosas

Ou

730 dias sem ela

 

É engraçado como todas as coisas na minha vida costumam se encaixar. Digo que, todos os fatores, objetivos e subjetivos se unem em um grande sentido. Muitas vezes caótico, claro. Bastante caótico. Mas não caótico caótico, como o mundo explodindo e pessoas sofrendo, não chega a ser algo tão grande assim. É algo caótico para mim e como eu disse, tudo bastante subjetivo. E essa é uma sensação que eu tenho constantemente, desde que eu me entendo por gente. É uma coisa que me persegue, realmente me persegue.  Não quero ser simplesmente mais uma daquelas pessoas que reclamam de tudo e de como a vida é ruim, e que elas não tem sorte pra nada e tudo mais, mas é meio inevitável eu comentar que é mais ou menos assim. Para mim a minha vida é realmente uma grande conspiração do universo. Sinto que eu sou apenas um grande experimento de entropia, sendo observado por alguma força maior. Tá bom, tá bom, eu não estou passando fome nem nada, levo uma vida normal. Mas sou perseguido por essa ironia que só eu entendo. Realmente eu. E simplesmente não posso parar de pensar que às vezes, minha vida é foda. Ah, no mal sentido da palavra, só pra deixar claro.

                E eu estava pensando em tudo isso agora. Enquanto avistava uma cena um tanto romântica, ou poética. Acho que é mais poético. Mas igualmente caótico. O prédio da frente estava pegando fogo, isso mesmo, fogo. Mas é como eu disse, as coisas na minha vida se encaixam. O prédio não estava pegando fogo em um dia qualquer, não não. Longe disso. O prédio pegava fogo em um dia que eu considerava crucial e realmente fogo não pode ser um bom sinal, convenhamos.  Encostado na parede do bloco, com o meu fiel ukulele no ombro direito e alguns amigos pela volta (no meio da grande turba) olhava preocupado aquele apartamento, engolindo seco. Aquele apartamento era a minha vida, e nesse momento ele precisava de uns três caminhões de bombeiros. Isso também não pode ser nada bom, realmente. Há um motivo pra eu andar sempre com um ukulele. Óbvio, senão eu seria só um maluco qualquer. Ele me acalma muito. Realmente me deixa mais tranquilo. Toco esse negócio em todos os lugares, ônibus, supermercados, meio da rua. É a minha alternativa para o cigarro, simplesmente algo pra controlar a ansiedade.  Esse também é o motivo de escolha do ukulele, é muito pequeno e prático. Esse pequeno instrumento de madeira é simplesmente o meu melhor amigo, isso mesmo, um pouco deprimente não? Mas ele certamente nunca me decepciona. Comecei a tocar a música que eu sempre tocava “elephant gun” do Beirut, me perdendo um pouco daquele incêndio e me concentrando na música. Só na música.

- Ei.

Um cara aleatório veio falar comigo, já tinha certeza do que ia acontecer em seguida. Certeza.

- Olá.

Mas afinal, continuei o tempo todo tocando.

- E esse teu cavaquinho ai?

Acreditem isso acontece comigo simplesmente todos os dias, todos.

- Bom, na verdade é um ukulele.

- U cu quem?

- Ukulele, é um instrumento havaiano. Não é um cavaquinho.

- Ah, isso ai é um cavaquinho sim!

- O ukulele até veio do cavaquinho, os portugueses levaram ele pro Havaí lá pelo século 17. Mas são diferentes em algumas coisas, a afinação é diferente.

Ele me olhava como se estivesse incrivelmente desinteressado, acho que ele nem me ouviu.

- Toca brasileirinho ai, nesse teu cavaco!

Só tinha uma resposta realmente boa que eu podia dar.

- Eu não sei tocar brasileirinho.

Ele me olhou realmente com profunda decepção, mesmo. E foi embora sem falar nada. Melhor assim afinal, embora já esteja acostumado, de verdade. Tem duas coisas que eu ouço todos os dias da minha vida, não palavras ou frases específicas, mas assuntos que tratam comigo todos os dias. Toda essa discussão ukulele/cavaquinho e alguém reclamando por eu ser vegetariano. Coisas como “O que você come então?” E isso que eu sou ovo-lacto vegetariano. Mas, bom, como eu disse, já estou acostumado.  E então outro costume se aproximou de mim, infelizmente. A origem do fogo no meu apartamento, meu vazamento de gás, meu curto circuito, meu eterno problema e a minha breve solução, e há muito tempo.

- Oi.

“Oi”, parece simples não é mesmo? Tinha uma época que eu sabia responder um simples “oi” dessa pessoa, era bom, sinto saudades, gostaria de receber um postal desses tempos. Mas faz tempo que não é tão simples, não sei como agir com ela, realmente não sei o que fazer mais. Aquariana maluca do jeito que ela é, tudo é extremamente incerto e inconstante. Ela não sabe o que ela quer, ela não sabe como quer que esse “oi” seja respondido. Ela não sabe se ela realmente quis dizer “oi”. Então como que eu vou saber? Como não enlouquecer em uma situação dessas? Só passo por tudo isso a mais ou menos dois anos, dois anos. Meus problemas com ela tem a idade de uma criança que já sabe até quase que se expressar verbalmente às vezes. Olha só isso.

- Olá.

                Sim, provavelmente não foi a melhor resposta. Parei de tocar, nem o ukulele tira essa minha aflição. Olhei pra ela, não dava pra me conter. Ela estava olhando meio desolada para o incêndio, encolhidinha do meu lado com aquele jeito de pinguim com síndrome de down que só ela tem. Adorável claro, sempre. Sentia saudades, sabe? Falta disso, por mais simples que seja. Ela viajou pelo fim de semana e só voltou hoje. E não sei o que esperar dela. Realmente não sei. Porque eu teria que esperar algo dela? Muito simples, vou tirar um parágrafo para rapidamente explicar isso. Mas continuei olhando, ela olhou para mim. Olhamos diretamente um no olho do outro, por uns 25 segundos, até chegar naquele ponto que o coração dói um pouquinho. Logo depois cada um olhou para um lado, como se nada tivesse acontecido. É, isso acontece constantemente. Digamos umas 37 vezes por dia. Mas tudo bem, vamos à recapitulação.

                Bom, será realmente rápido, prometo. Poderia sem muita dificuldade escrever um romance sobre isso, mas se ela algum dia acabar lendo isso daqui, quero que pareça um pouco mais descompromissado. Na verdade, se ela realmente acabar lendo isso, ela pode pular esse parágrafo, não vai trazer nada de novo.  Fica aqui o aviso “Hey moça do conto, se você acha que você é ela, não precisa ler esse parágrafo, só vai me deixar com vergonha no máximo, mas eu acho que é importante para as outras pessoas entenderem essa história maluca.” Agora sim, podemos seguir. Desculpe por essa intromissão, sei que não é a forma mais fácil de mandar recados. E ah, fica um aviso ao resto das pessoas também, a história não é muito interessante, de verdade. Se quiserem podem ir comer, ver TV, pintar ou até mesmo escrever uma história melhor que essa. Podem ficar a vontade, prometo que a próxima vai ser melhor. Bom, 730 e poucos dias atrás eu me apaixonei por essa moça. Dias atribulados e confusos, calmos e agitados, e com amor e sem amor. Brigas, discussões e bons momentos. Talvez o que todo mundo tenha com qualquer pessoa, provavelmente na verdade. Mas temos toda essa história complicada e difícil. Onde eu que me dou mal constantemente, claro. Mas bom como eu disse antes, já é costume, infelizmente. Sofrer por ela já nem tem graça mais (não que já tenha tido graça), por isso que justamente, 730 e poucos dias depois eu já havia me curado completamente de tudo isso. Tive que fazer isso. Uns 500 e poucos dias atrás, talvez um pouco menos, ela realmente escolheu outro cara ao em vez de mim. Um amigo meu. Outro cara, vocês acreditam nisso? E ele nem toca ukulele nem nada. Então, semana passada, 730 e poucos dias depois, ela decide que gosta de mim. Foi certamente uma semana atribulada, carinho e confusões,  amor e tristeza, todo o pacote.  Então na quinta feira, véspera da viagem dela, foi praticamente uma novela das 8. Era aniversário da sua mãe , tinham parentes, bebidas, pessoas limpas e arrumadas, queijos e ela, claro. Que fique claro que ela vem depois dos queijos! Ah, o namorado dela também estava lá. E a ideia dele lá me fazia muito mal, só conseguia pensar que então ela me arrasta de volta pra vida dela pra esfregar na minha cara que escolheu ele, de novo. Parece maldade pra mim. Sinto muito se ela leu esse parágrafo, mas é maldade. Então realmente para a minha surpresa, a noite acabou de uma forma completamente diferente do que eu esperava.  Ela pedindo um tempo para o tal cara que não toca ukulele e contando pra um amigo meu que gosta de mim, afinal. Claro que ela não contou pra mim, isso é realmente impossível para ela. Mas ainda assim, fiquei feliz, realmente feliz. Por ela, talvez pela primeira vez. Se vocês acham que vai acontecer mais alguma coisa, algo muito interessante ou incrível, eu já avisei. A história não é das melhores.  Ela então viajou para um lugar inóspito (Ok, não chega a ser inóspito, mas é bem isolado, acho) e certamente aproveitou para pensar muito sobre tudo isso. A volta dela decidiria a questão, no domingo eu ia saber se ela realmente gosta de mim ou se vai voltar com o outro cara. Pelo menos tecnicamente. Exatamente esse domingo, do incêndio na casa da frente. Viram? Não é fácil.

                Voltando a realidade, estava ao lado dela, encostado na parede, simplesmente olhando o meu fogo queimar. Ela estava com uma câmera, filmando e tirando umas fotos. Pra vender pra algum jornal ou algo assim.

- Dando uma de jornalista hoje?

- É, é divertido. Acho incrível tudo isso acontecendo bem aqui na frente.

- É engraçado não é? Toda essa gente na volta? As pessoas realmente gostam de ver tragédias.

- Acho que as pessoas gostam de se chocar mesmo.

- Pra mim, esse fogo é diretamente relacionado à vida de todas as pessoas aqui em volta. É um tanto simbólico.

- Como assim?

- As coisas acontecendo com todo mundo. Como com a gente, o Roberto vai embora, você chegou de viagem hoje. Você deve estar cansada e tem que encarar um incêndio na frente de casa ainda. Eu sinto minha vida um pouco como esse apartamento.

Olhei pra ela novamente, sim, mais um daqueles momentos. Perco-me nos seus lindos olhos castanhos e na constelação de pintinhas no seu rosto, e então de repente os olhares se desencontram e volto à realidade.

- Quero ver isso de outro ângulo. Vamos lá?

                Não, nunca conversamos e nunca vamos conversar abertamente sobre sentimentos. Como toda a minha vida, é tudo um mar de metáforas e subtextos. Cansa às vezes. É como cinema. Curto ver um Antonioni, mas de vez em quando precisamos daquele ”American Pie”. Ou algo um pouco mais tranquilo, como uma comédia romântica. Por sinal eu culpo todo o meu romantismo exacerbado às comédias românticas. Cresci vendo essas coisas e não fazem nada bem. Aos poucos fui descobrindo que a vida é só uma comédia mesmo, acaba faltando o romantismo. Esperei um pouquinho e fui ver esse outro ângulo, lá estava ela com alguns dos nossos amigos. Olhei bem, mas continuava a mesma coisa. Mudar o lugar não adiantava nada. Ela olhava de vez em quando, eu também, não falei mais nada. Não sabia o que pensar. Ela voltou de viagem certamente mais distante, mas o sentimento da semana passada continua ali. Ela parece na verdade, relutante quanto aquele sentimento e deixando-o vazar de tempos em tempos. Não sei bem o que tirar disso, mas fiquei meio desapontado. Acho que ainda não tinha acabado afinal.

- Vamos subir!

                Ela disse, e fomos todos lá para a sua casa. Mas logo ao subir, ela fez o que mais me irritava 690 dias atrás (aproximado), ficar no computador.  Porque isso só poderia significar uma coisa, falar com ele, claro. Com o outro cara, o que come carne. Mas ao contrário de 710 dias atrás, eu aprendi que eu posso quase que facilmente fingir estar completamente calmo. E de fato, até ficar calmo. Então, foda-se isso, eu fui assistir a um jogo de futebol. Não, eu não gosto de futebol, mas era um jogo mais importante, como a final da copa do mundo ou algo assim, com dois times que eu não gostava. Tudo parecia estar mudando, acabando, começando ou queimando nesse domingo. Realmente fingi apreciar aquele jogo por algum tempo, digamos uns 11 minutos.  Durante, ela veio, me abraçando e fazendo um cafuné, claro. Putz, tá ai uma palavra que eu não gosto, cafuné. Sempre me sinto um idiota quando eu falo cafuné. Você ai que está lendo, tente uma vez, pode ser baixinho. CAFUNÉ. Mas então ela foi embora rapidamente e eu fiquei lá vendo aquele jogo insuportável por um tempo considerável.  Nem me lembro de como exatamente, mas em não muito tempo (certamente menos de 60 minutos, talvez uns 54), fomos parar analisando o fogo novamente, pela janela. Bom, claro, já tinham apagado, mas a comoção continuava.  A janela tem uma daquelas proteções contra crianças sabe? Aquelas redinhas engraçadas que não deixam que o cara pule, essas coisas. E ficamos ali falando mais sobre o fogo, as mesmas metáforas de sempre, então nem vou reproduzir o diálogo dessa parte. O importante é a minha metáfora de agora, pra mim pelo menos. Os dois ali naquela rede, de certa forma buscando e fugindo um do outro. Como aranhas cegas na mesma teia, subindo e descendo e explorando aquele mundo que elas próprias criaram. Como as “aranhas” em nossas mãos. Eu sei que busquei muito aqueles olhos de 730 dias, e os encontrei diversas vezes por algum tempo.  Ainda tive mais uns 700 momentos daqueles que dói o coração de leve, mas como tudo, logo acabou. Claro, voltei para aquele jogo insuportável. Fui aguentando e aguentando, até mesmo me entretendo em alguns momentos, mas realmente me entretendo só por no máximo uns 5 minutos. Mas então ele acaba com prorrogação! 0 a 0 até o final. Já não aguento mais, realmente não aguento. Até que, lutando contra as minhas convicções atuais, fui até ela (que tinha voltado para o computador há um tempo). Vamos acabar com isso de uma vez.

                Cheguei lá, sem saber como me portar muito bem. É como aquela história do “oi”, não dá pra saber, simplesmente não dá.  Pelas minhas passadas pela frente, já tinha percebido que ela não estava falando com ele, mas sabia que era uma questão de tempo. De fato, se eu não me engano ela começou a falar com ele (o cara de óculos, é, eu não uso óculos) exatamente na hora que eu entrei naquele quarto, claro. Mas acho que não chegou a ser um problema. Pra mim, pelo menos. Sentei por perto, aconteceram mais alguns daqueles momentos, tá, tá, eu paro de falar toda a hora dessas coisas, mas vocês todos tem que ver que esses momentos são o ápice da história, o máximo de emoção que eu vou conseguir tirar daqui, sério. Então tenho que aproveitá-los poxa. Sentei longe agora, fiquei na minha, quase dormindo no meu canto, a pressão social já estava acabando comigo. Isso é uma coisa que eu acho incrível, ela está logo ali, na minha frente. Tem mil e uma coisas que eu poderia dizer, mil formas de me expressar, de dizer o que eu sinto, saber o que ela sente. Mas é algo tão difícil, impossível eu diria.  As pessoas são tão complicadas, eu sou tão complicado e ela consegue ser ainda mais. Queria simplesmente contar pra ela que eu acho os dentinhos da frente dela, que são levemente tortos, a coisa mais charmosa do mundo. Realmente a coisa mais bonitinha da terra. Eu, como um virginiano puro acho a coisa mais incrível do mundo poder de fato apreciar os pequenos "defeitos" das pessoas.  Geralmente acabam me incomodando muito, muito mesmo. Eu li em algum lugar, acho que em uma história em quadrinhos, que “você gosta das pessoas pelas suas qualidades, mas as ama pelos seus defeitos”. Entendi isso com ela, uns 697 dias atrás. Amor, eu acho. Também acho engraçado como uma palavra dela pode fazer o meu dia, ou acabar com ele. Ela não faz ideia do poder que tem sobre mim, realmente não faz ideia. Gostaria que tudo isso pudesse ser um pouco mais simples. Simplesmente mais simples.

Acabamos conversando muito essa noite, bastante mesmo.  Por uns 320 minutos. Como não fazíamos há realmente muito tempo. Ela falou qualquer coisa sobre qualquer coisa que por alguma razão me fez falar de signos. Como alguns leitores mais atentos podem ter percebido, eu estou falando sobre armadilhas do universo, destino. Então não é de se estranhar que eu goste de signos e essa palhaçada toda.

- Isso é coisa de aquariano maluco.

Há uns 713 dias atrás eu parei pra pensar nessas coisas relacionando com ela.

- Por quê? Fica sempre falando mal dos aquarianos. Eu gosto de aquarianos.

- Certamente 90% dos problemas da minha vida são relacionados com aquarianos, sem exceções.

- Eu acho um bom signo.

- Tudo isso que te faz ser tão inconstante assim.

- Inconstante?

- É, muda de ideia o tempo todo. Quanto a tudo.

Ela me olhou agora, com uma cara de “realmente sempre mudo de ideia quanto a tudo, o tempo todo”.

- Vocês são muito complicados, eu não sei lidar com aquarianos.

- Eu não sou complicada.

Olhei pra ela agora, com uma cara de “você é simplesmente a pessoa mais complicada que eu conheço”.

- Tá, quem sabe. E o teu signo?

- O meu é virgem, de terra. Centrado, pé no chão, sério e compenetrado. Além de é claro, cheio de manias, hipocondríaco, cheio de medos e aflições. Não é o melhor signo. E o teu signo é de ar, são totalmente opostos.

- É, mas a gente se dá bem.

- Bom já brigamos muito.

- É, isso é verdade.

- Mas acho que os dois cresceram, já não brigamos faz tempo.

- Realmente.

Depois ela viu descrições dos signos na internet, embora não tenham nada a ver, as descrições na parte do “amor” praticamente empurrava um para o outro. Rá, o universo. Certamente foi um momento engraçado, ou deprimente talvez. Fui sentar mais longe novamente e peguei um boneco de pelúcia muito grande do Tigrão para sentar comigo. Eu não queria cair na armadilha de ficar falando sem parar, então fiquei quieto, com o Tigrão claro. Logo em seguida, foi criada certa simetria. Ela foi até os poucos bonecos de pelúcia jogados, agarrou um urso (bastante longe) e sentou-se ao computador de novo. Estávamos longe, cada um com o seu companheiro de pelúcia. Eu não estava olhando para nada, mas só pensava nela. Ela estava olhando para o computador, provavelmente falando com o cara (que usa tênis pretos, eu uso brancos), mas volta e meia me lançava um olhar e puxava algum assunto. Eu tentava simplesmente dissimular a minha ansiedade e incerteza.

- Vai fazer alguma coisa amanhã?

- Não, acho que nada.

- A gente pode ver outro filme, ou sei lá.

- Pode ser.

Olhei para o Tigrão e perguntei, mas logo me lembrei de que não existe nenhum filme aturável do Ursinho pooh (que nos engana com Puff até hoje).

- Que tal um do ursinho pooh?

- Ah, pode ser, mas são todos chatos.

- Eu gostava daquela apatia do Urso Pooh.

- Tipo, ele prendendo as mãos no pote de mel? Sempre acontecia isso, era muito bom.

- Pois é! Exatamente.

                Gostaria que todos fizessem um esforço agora e lessem o próximo diálogo com a voz do Ursinho Pooh.

- “Oh, essa não, minha mão está presa no pote de mel”.

                Ela deu uma risadinha. É o que eu sempre presumo pelos sons e gestos corporais, porque ela sempre coloca a mão na frente quando vai rir. Sempre.  Ela não devia ter vergonha de simplesmente rir. É uma coisa tão gostosa. Isso até que me incomodava uns 715 dias atrás, mas é bonitinho. É ela. Já esqueci como se ri sem as mãos na frente. Parece incompleto, sei lá. Realmente parece incompleto. Continuando com a galera do Pooh, perguntei.

- Qual era o teu personagem preferido do Ursinho pooh?

- Era aquele burro, Bisonho eu acho.

- Ele era um burro Bisonho?

                Bisonho, tá aí uma palavra que as pessoas não falam o bastante.

- Não, não. O nome dele era Bisonho.

- Mas ele era burro?

- Não! Ele era um burro! Um animal!

- Ah, era aquele que tinha o rabo preso por uma fita crepe ou algo assim? Ele sempre perdia o rabo. Eu achava isso simplesmente muito estranho. Da onde vem uma ideia dessas enquanto se faz a história de um desenho?

- É, é esse mesmo. Bom, deve ter vindo daquela brincadeira de colocar o rabo no burro, não é? Eu acho que é isso.

- Ah, é mesmo. Faz muito sentido. Muito sagaz da tua parte.

- Obrigada.

- Então o teu personagem preferido do negócio era o mais melancólico e depressivo?

- É, sim. Ele era tão bonitinho.

- E o tigrão? O tigrão era bem mais maroto. Eu gostava mais do tigrão.

- Ah, ele era legal também. Mas eu gostava mais do Bisonho.

- Mas o Tigrão é bem mais legal, olha só pra cara dele! Como ser mais legal do que isso?

- Sempre gostei mais do Bisonho, sei lá.

- Então, mas de vez em quando a gente se prende a uma ideia, a algo que gostamos a muito tempo sem nem saber o porquê direito e no final realmente acreditamos que é a melhor coisa. É difícil, mas às vezes nós temos que simplesmente, sei lá, quebrar essa barreira sabe? Permitir a si mesmo gostar de outras coisas, que podem ser tão boas e até muito melhores. Não podemos ter medo das coisas novas. medo mesmo. Eu também tenho, eu tenho muito.  Realmente tenho muito, mas é tudo uma questão de simplesmente seguir o seu coração. Se deixe levar, siga o coração, por mais difícil que seja. Vai ser mais difícil no começo, mas no final vai ficar muito melhor, muito melhor mesmo. Tudo vai valer a pena.

                Ok me desculpem. Eu sei que eu prometi que tinham acabado os momentos. Quais momentos? Aqueles de apertar o coração de leve e tal. Aqueles poxa.  Mas agora, bom, aconteceu de novo, claro. E já que estamos chegando ao final da história, nada mais justo que do que fazer uma pequena descrição do último. O último, eu prometo. Longe, cada um com o seu companheiro de pelúcia, nossos olhos se cruzaram mais uma vez. Por, sei lá, dessa vez realmente não sei. Uns 1200 minutos? 5 segundos talvez? Seu olhar foi diretamente lá dentro, meu mundo era somente os seus olhos. Ela sempre disse que os meus olhos são bonitos e os dela sem graça, realmente nunca consegui entender isso. Nunca vou entender. Poxa, sem graça? São os olhos dela. E não há nada que me deixe mais tranquilo do que eles, como se enfim tivesse encontrado meu lugar no mundo. Enfim não precisasse me preocupar com nada. É muito mais do que um velho ukulele. Muito mais. Tentei me manter com essa tranquilidade, mas com os meus recentes problemas respiratórios (é, tem isso ainda) foi difícil. Logo veio um apertozinho no coração muito mais intenso. É incrível como é difícil. É como aquele velho e brega clichê, se me permitem, “Tão perto, mas tão longe”. E realmente é assim.

- Eu vou... Tomar uma água.

Saí dali, já não aguentava mais. Difícil de ter paciência para esses 730 dias sem ela. Encontrei um dos meus amigos ali pela porta e desci com ele até o parquinho ali perto. Sentamos em um banco e imediatamente me lembrei de algumas coisas.

- E ai cara? Como estão as coisas?

- Complicadas, complicadas. Ela é maluca, simplesmente maluca. E é tanta coisa acontecendo que eu realmente não sei o que pensar.

- Você sabe que ela é complicada. Ela tá confusa, não sabe o que fazer.

- Às vezes, muitas vezes, eu tenho essa impressão de que o mundo inteiro é só uma peça de teatro tentando me entreter, tudo muito ensaiado, muito forçado. Mas o problema mesmo, é quando eu percebo que eu também faço parte dessa peça.

- Bom, muito provavelmente não é nada disso.

- Eu sei, eu sei poxa. O universo não está contra mim, provavelmente.

- É, acho que ele não tá.

- Sabe esse banco aqui? Que nós estamos sentados?

- Que tem o banco?

- Uns 680 dias atrás, no primeiro semestre da faculdade. Eu costumava vir aqui sempre, sempre mesmo. Lia todos os textos que eu tinha que ler por aqui.

- Esperava que ela pudesse aparecer?

- É, bem isso. Tinha uma vaga esperança de que ela aparecesse por aqui.

- E apareceu?

- Não. Nunca.

- Bom isso não quer dizer nada.

- Eu acho que é isso sabe, eu estou sentado nesse banco até hoje. Sentado aqui esperando que ela apareça. Há 730 dias.

- Poxa.

- Mas ela não apareceu ainda. Realmente não apareceu.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Qual é a cara desse amor?
Que só me vê em julho
Inverno breve que abraça o medo
Do sétimo tempo que não te tenho
Intangível sonho agora gasto
Longo sono se já não acordo
730 vezes canto este verso
Iguais, as preces que agora guardo
Na realidade do nosso universo
Te ter é sofrer
Não ver é saber
Que ainda se me afasto
No ar gasto que te trago
Desisto do ser
E Simplesmente, sou você.