quinta-feira, 22 de abril de 2010

Abre a tua redoma de estrelas
Deixe que caiam belas
Dançando sob um véu de versos
Acende aquelas cinco velas
Labirintos de portas abertas
Pintando nossa tela
Brilhando teu universo.

Mostra esse universo teu, não conheço
Sei das cores de ontem
Um curto tempo infinito
Tinta que pinta destroços
Muda esse teu olhar em sépia
Que guia o medo, um grito
Vendo a verdade prévia
Tempos seus que não eram nossos

Desliga essa câmera escura
Que enxerga tão claro
Apaga o velho cigarro
Abre nosso quadrado de férias
Aquela janela que escuta
A noite, lua desnuda
Iluminando de lado
A solidão do teu quarto.

Olha pro céu, vizinho antigo
Se senta ao teu lado, não ligo
Te mostra o que sou, você
Poeta que lê, teus olhos no traço
Acode o olhar cansado
Só te vejo, em tudo que faço
Escrevo nesse luar manchado  
Trago-te aqui pro meu lado.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Vivo Pouco, Mas Esse Pouco Me Transforma em Outra Pessoa, e Essa Pessoa Vive Muito.

 

Andava de carro com uma amiga, já não me lembro que dia que era. Mas acho que era algo mais meio da semana, como quarta ou quinta. A vida me ensinou que grandes eventos sempre acontecem nos “piores” dias da semana. Não grandes eventos em custo ou esforço para que seja realizado, não é isso. Grandes eventos no significado, aquelas coisas que por menor que sejam, conseguiram um espaço significativo na nossa seleta memória. Ao longo da vida, todos os eventos que realmente significaram algo para mim, aconteceram em uma quinta-feira. Logo em uma quinta-feira, que é certamente o dia mais mal localizado da semana. E não digo no sentido de ser um dia ruim, é muito pior do que isso. Domingo sim é um dia ruim, incomoda a tudo e a todos. É o mártir dos dias da semana. Domingo está mais do que acostumado a ser crucificado todo... Bom, todo domingo. Já quinta, não fede nem cheira. É só mais um dia da semana, que não é no meio nem no final, e muito menos no começo. Acho que de certa forma eu sempre me senti um pouco quinta-feira. Talvez por isso que seja o meu dia.

                Mas voltando a história. Eu estava no carro de uma amiga, uma amiga que compartilha uma pequena deficiência comigo. Eu sempre pensei que eu tinha o pior senso geográfico de todo o planeta. Eu chego a me perder na minha própria quadra, em frente a minha casa. É só me colocar uma venda e me girar que eu já não faço a menor idéia de onde eu estou. E ela, consegue ter um tão ruim quanto, senão pior. Então podem compor a cena, são duas pessoas sem a menor idéia de como se localizar, problemas quanto ao senso de espaço, tentando achar um lugar ao qual nenhum dos dois nunca foi.  Tá, isso não é necessariamente verdade. Os dois já foram. Mas consegue ser tão difícil quanto.  Depois de ruas erradas, viradas equivocadas e muito refletir, nós conseguimos chegar ao lugar que aparentemente era o certo.

                Estávamos indo para uma festa, não exatamente uma festa. Um “happy hour”, na verdade um conjunto de horas felizes espalhadas pelos cantos da universidade federal local. A universidade estava em greve já há uns dois meses, então nada mais justo que fretar o local para uma grande festa, não é mesmo? Como toda boa juventude, a nossa não fugia a regras de comportamento. Era a mesma organização de pessoas envolvidas pelo álcool de sempre. Não estava ali muito animado de ir até lá. Deixo claro que não tenho absolutamente nada contra eventos, ou pessoas. Diria que objetivamente o meu problema é aglomerações de pessoas. E não digo nada negativo quanto ao álcool, isso só tende a suavizar as coisas. Eu gosto de bêbados, além de sinceros tendem muitas vezes a tentar divertir os outros. Imagine um grupo grande de pessoas sóbrias? Muita pressão social envolvida. Seria um número de pessoas demasiado grande para estar ali me julgando e porque não, sendo julgadas?  Bêbados não julgam, são de fato muito julgados, mas não dão a menor bola pra isso. Um bom número de sóbrios deveria aprender algo com eles. Relaxar no mínimo, ou qualquer coisa é só beber um pouco. Eu não bebo e posso dizer que me encaixo perfeitamente no grupo dos sóbrios. Chegando ao grande edifício que estava abrigando esse grande número de “horas felizes”, logo damos de cara com um amigo. Ele vem correndo, sorrindo, bêbado claro, com uma rosa no bolso do paletó e um caderninho na mão.

- Posso ler algo pra vocês?

Porque não, não é mesmo? Toda idéia é bem-vinda, até segunda ordem. Ele subiu de golpe em uma pequena mureta e disse.

 - É um pequeno excerto de “A insustentável leveza do ser”: “Nunca se pode saber aquilo que se deve querer, pois só se tem uma vida e não se pode nem compará-la com as vidas anteriores nem corrigi-la nas vidas posteriores”.

Perguntei o porquê da flor no bolso.

- Comprei uma rosa.

- Vai dar pra quem?

- Pra ninguém, comprei pra mim mesmo. Acho injusto que só as mulheres recebam flores. Casaria na hora com qualquer mulher que me entregasse uma rosa dessas.

Pensei em como realmente eu também nunca recebi uma flor, e provavelmente nunca iria receber. Aceitaria com um sorriso no rosto, não é mesmo? Dar uma flor a outra pessoa significa muita coisa. Achando que fazia realmente muito sentido, perguntei.

- Tá muito bêbado?

- Bastante, o engraçado é que eu vivo pouco.

- Vive pouco?

- Vivo pouco, mas esse pouco me transforma em outra pessoa, e essa pessoa vive muito. E aí que está o problema.

Pensei por um momento o que raios ele queria dizer com aquilo. Nada provavelmente, mas de alguma forma achei incrivelmente sábio.

- E por mais que tu vivas, nunca vai ser o bastante. Porque afinal só se tem uma vida, não é mesmo?

E com aquele velho abraço de bêbado, seguimos os três caminhando por aqueles corredores escuros, mas cheios de gente espalhada nos cantos. Pensando na vida, eu acho. Pensando em viver enquanto dá. Seguindo por aquele corredor com sonhos e aflições. Praticamente um mágico de Oz nos tempos atuais.

                Mesmo com toda essa atmosfera reflexiva, logo nos deparamos com o que seria a porta de uma dessas grandes aglomerações de pessoas.  Descemos para onde tinham ainda mais pessoas, somadas a um calor insuportável e uma trilha sonora desnecessária. Porque mais que eu finja uma postura sociável e esconda meus traumas sociopatas o máximo possível, eu ainda sinto um grande desconforto quando sou simplesmente atirado a uma multidão de pessoas escutando músicas horríveis. Depois de alguns momentos de deleite, naturalmente subimos de volta, mas dessa vez, um pouco além.

- Vamos subir mais!

Então estávamos lá, os três jovens perdidos como somos, sozinhos na parte de cima da universidade. Tudo completamente vazio, de repente o mundo era nosso. E não havia aí tantas possibilidades. O que restava fazer a não ser darmos as mãos e sairmos correndo freneticamente por aqueles elevados corredores? Simplesmente, nos deixar levar. Somos jovens, confusos, temos que nos dar ao luxo de fazer coisas completamente sem sentido de vez em quando. E ali paralelo a todos, três malucos corriam acima. Não importava mais nada, toda conduta, regras e normas sociais. Só precisávamos correr, não importava para onde. O que importava era a corrida e o que se tirava dela. O corredor era gigantesco, não se via o final. Corremos e corremos e o corredor não acabava nem parecia acabar. O corredor era a própria vida. Nós, jovens malucos correndo por ela. Mas relembrando “A insustentável leveza do ser”, “metáforas são perigosas.” Tudo isso pode soar como algo totalmente imbecil, mas naquele momento realmente me senti um tanto elevado. Naturalmente, eventualmente cansamos. Parados ali em cima, olhando para baixo. Víamos as pessoas tão despreocupadas e ocupadas com o seu próprio desenrolar. Tínhamos o nosso, e o nosso próprio espaço. Então gritamos todas as frases de efeito que conseguíamos lembrar.

- “I’M THE KING OF THE WORLD!”

- “THIS IS SPARTA!”

- “MY NAME IS CHARLIE BARTLETT AND IM NOT ALONE!”

                Apesar de todo esse descarrego, faltava algo. A jornada não tinha acabado. Senti-me como em um filme europeu. Andávamos por aquelas corredores, olhando cada panfleto nas paredes, e cada parede. Pensando em tudo que já aconteceu e ainda vai acontecer naquela velha universidade. Agora éramos parte daquilo. Vimos uma oportunidade, uma sala aberta. Entramos naquela sala escura, eu e minha amiga sentamos em carteiras espalhadas pela sala, enquanto meu amigo cismou em escrever um de seus poemas no quadro negro. Que como tantos, falava do amor. Disparamos a falar sobre o amor, futuro, família e outros temas delicados. Jovens perdidos trocando idéias para ficarem ainda mais perdidos, ou pior ainda, se encontrar.

- O amor não existe. O amor, é infinito, é perfeito. Como algo com essas características pode ser tocável? Tangível?

- Temos a idéia do amor, o conceito. Que nada mais é do que o conjunto de todos os sentimentos ligados a ele.

- Como duas retas no infinito, nunca irão se encontrar. Assim que é o amor, o que importa é o caminho e não a conclusão.

- O que importa é a corrida, não a chegada.

- E apesar de tudo, eu amo o amor. Ainda que seja só a idéia

- O que seria de todos nós sem o amor?

- Seja lá o que ele for

Saímos daquela sala em não muito tempo. Pensando que talvez tivéssemos aproveitado o ambiente muito mais do que os outros. Ou talvez tenha sido só uma grande perda de tempo. Meu amigo olhou para o bolso de seu paletó, a rosa já não estava lá.

- Acho que perdi a minha rosa na corrida.

Da corrida se leva muito, se perde pouco. Descemos a escada, continuamos simplesmente sendo loucos.

 

 

 

 

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Tantas dores iguais
Sonhos mortais
Dúvidas claras
Mortes pesadas
Desejos banais
Já não sei o que tento
Muito que falar
Pouco a dizer
Danço na direção do vento
Aprendendo, esquecer
Tentando Aprender.

Falas assim, distante
Olhas de lado
Sorris igual antes
Com gosto manchado
Longo alcance
Naquele Bonito transe
Quando vejo aposta
Mas você dá lance.

Porque não ela?
Se me vejo em tudo
tolas vontades boas
Danças de mil garoas
Mar que abraça amigo
carregando braços antigos
Pesados, sofridos
Se senta ao lado
Lê seus lábios,
Lê um livro.

Digo que ame
Aquele medo já é outro
Mais solto que torto
Antigo reclame
De um gosto de poucos
Amores de loucos
Sorriso fingido
Uma estante de livros não lidos
Poemas contidos
Querendo teus versos
Pedindo um abrigo.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Levo teu sorriso
Se não o levo, me leva ele
Lava-me a cara
Do caro que é pouco
Porque muito não sei
Sabemos daquilo
Um café, um abrigo
Noites leves
Que me levam ao outro
Ao que senti, comigo
Tudo que sou, antigo
Se me vês, sorrio  
E por que sorriso
No olhar do louco?

Sorrisos baldios
Confiança alheia
Busca o que eu sempre procuro
Sorri para tudo, todos
Qualquera
Seu tempo é dele,  é dela
Elas se vem com ele
Ele só se vê nela
Pra que serve tanta quimera
Se teu sorriso
Mudou o que fui
Levou o que eu era.